segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Projota - Não Há Lugar Melhor No Mundo Que o Nosso Lugar


Quarto trabalho do Projota (entre mixtapes e EPs), Não Há...encontra o MC da zona norte paulistana em grande forma, distribuindo versos contundentes entre as batidas produzidas, em sua maioria, por Laudz e DJ Caíque. A forma e a construção do disco denotam uma opção pela coesão: mais do que uma mixtape "costurada", há um verdadeiro senso de criação de climas e picos, o suficiente para equilibrar a distribuição das canções.

O hit Pode Se Envolver, carro-chefe da divulgação de Não Há...é uma das melhores músicas do ano: contando com a destreza de Projota e dona de belo flow e encaixe rítmico, pega logo na primeira audição; celebratória e contando a trajetória de "uns menino bom/que trabalha e faz um som", traz um retrato simples e sem retoques da periferia que trabalha e se diverte. Nós Somos um Só é bonita no invólucro, mas como um bom rap, carrega nos versos o peso de imagens pouco agradáveis da desigualdade: uma mensagem de persistência diante de obstáculos quase intransponíveis. Recado claro: "Não lute contra mim enquanto existem tantos Kassabs por aí". O tal equilíbrio aparece na sequência, com Mais do Que Pegadas: positivo depoimento de sua trajetória no rap, aliviando um pouco o soco mas sem perder o punch. Resident Evil foge dos clichês no trato com o tema do crack consumido por centenas  nas ruas das imediações do centro de São Paulo (não só): " coração bate/o cérebro lateja/a alma flutua/o corpo rasteja/vidros sobem, a noite cai/ o resident evil tá la fora, não sai". Rap do Ônibus é mais um retrato do trabalhador comum destratado no transporte público: "Dá mais trabalho chegar no trabalho do que trabalhar". Vai Clarear funciona melhor do que livros de auto-ajuda ou vídeos corporativos sobre superação: a realidade contada é mais dolorosa, porém muito mais efetiva. Há beats que se alternam entre o acompanhamento e a quebra, refrões fortes e passagens mais dark, tudo funcionando. A segunda metade do disco segue em alto nível, entre a diversão de Azz Veizz e suas mulheres quase impossíveis, os violões de Carrinho de Feira, a insistente batida da romântica A Cama e a épica Em Volta da Fogueira.

Projota realizou um trabalho bastante sólido, recheado de pancadas e beleza, com uma grande perícia característica dos grandes MCs. Pra quem ainda insiste em enxergar o rap como um alien a ser analisado não por seus méritos musicais mas como um estudo político-social  um pedacinho de contexto:

" E sempre tem alguém pra falar mal/impressionante mesmo é que quem fala raramente tem moral" 8/10  

Clique aqui para baixar a mixtape.  

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