Dois discos com lançamento dentro dessa semana merecem a atenção, por motivos diferentes: Velociraptor!, quarto disco dos ingleses do Kasabian, e a estreia das americanas do Wild Flag. Propostas e situações com pouca coisa em comum, mas com bons resultados:
Desde o fim do Oasis a Inglaterra parece sentir a falta de uma grande banda de rock, que opere com grande aprovação popular e seja capaz de alinhar a urgência juvenil em escala maior. É bem verdade que a banda dos irmãos Gallagher andava devendo melhores álbuns, mas seus shows ainda eram capazes de mobilizar mais do que saudosos; bandas como o Arctic Monkeys e os novatos do Vaccines muitas vezes se vêem presas aos rótulos da imprensa britânica, e o sucesso de Coldplay e Muse não se distancia muito da roupagem de bandas como o U2. Falta mais sangue, boas canções e desejo de ser mais do que a sensação indie. O Kasabian parece ter se preparado para ocupar esse espaço. Seus dois últimos álbuns alcançaram o primeiro lugar da parada britânica, mas Velociraptor! parece ser o mais coeso trabalho dos caras.
Utilizando uma alquimia que reúne Kinks, Who, psicodelia e acenos para o rock dançante-agressivo - não diferente dos trabalhos anteriores - o Kasabian entrega um disco redondo, equilibrado entre rocks-hino (Days Are Forgotten, Velociraptor!), baladas (Goodbye Kiss) e pequenas peças pop levemente intrincadas (La Fee Verte, Acid Turkish Bath). Sem desperdiçar nenhum momento e enxugando possíveis gorduras, Velociraptor! só pode ser criticado exatamente por seguir uma fórmula e produção que favorecem uma certa uniformidade asséptica, algo que se anula pelo poder das ótimas composições. É improvável que sejam aceitos no mercado norte-americano, mas sua influência e popularidade na ilha devem crescer ainda mais. 8/10
O primeiro disco do Wild Flag possui um tipo de sonoridade forte que só a experiência anterior de suas integrantes pode explicar: Carrie Brownstein e Jante Weiss tocaram no Sleater- Kinney, Mary Timony era a líder do Helium e Rebecca Cole foi do The Minders. Dá até pra chamar de supergrupo, exceto pelo fato de que, mais do que um projeto de resultado díspare, o Wild Flag se parece mesmo como uma banda, uma unidade funcionando em alta rotação. Com dez músicas e duração parecida com os antigos LPs - direto, cru e adequado - a estréia das garotas de Portland e Washington D.C. surpreende pelo frescor: ao invés de veteranas do underground atirando suas últimas pedras, o Wild Flag é mais um renascimento criativo (embora Mary tenha uma boa carreira solo).
Integrando uma costura de guitarras duelantes, abrasividade e melodia, há muitos ganchos aqui para prender o ouvinte, mesmo após diversas audições. Romance é uma furiosa releitura new wave, Glass Tambourine se aproxima de um garagismo sixties, Endless Talk é rock setentista, Short Version é meio que tudo isso junto mais pós-punk. Sem se apoiar em referências óbvias, o Wild Flag vai flertando com extrema facilidade num universo rocker sujão e pop ao mesmo tempo. O que é objeto de extremo esforço para algumas bandas, é realizado como quem nem se importa pelo Wild Flag. Provavelmente porque elas realmente não tem mais paciência para expectativas e operam com consistência no cenário independente americano .Discão. 8,5/10
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